sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Sobre pipas

Fui - na minha cabeça de pipa - criado para voar.
O vento, a linha, o pote de aluminio... enfim - tudo o que existe a minha volta é para que eu voe. Por vezes o vento esta forte e sou erguido, a criança que me auxilia vai desenrolando e eu vou flutuando até onde a linha permite; dali aonde ela acaba é seguro o suficiente para que eu voe por mim mesmo até onde eu quiser.
Quando o vento acabar eu vou cair suavemente e outro menino vai me pegar pela linha. Serei novamente enrolado em um pote - esse de plástico talvez - e vai repetir o processo.
E eu vou voar pra sempre assim


No entanto eu nunca vou até o meu limite.
As vezes o vento está fraco... as vezes o céu está escuro... as vezes outras pipas parecem e não se torna mais seguro (o céu é para apenas uma pipa, todos sabemos) - é compreensivel nessas horas.
Mas as vezes é a criança quem fraqueja.
As vezes ele desiste e corre com outros meninos.
As vezes ele é chamado e vai para sua casa.
As vezes ele simplesmente me retorna (talvez não confiando no vento, quem sabe?)

Me pergunto se ele quer realmente que eu voe. Se ele não me fez simplesmente para me levar até o limite e me trazer de volta - tirando o meu prazer maior que é a liberdade do movimento.
Voar, flutuar no vento - é muito bom.
Admito que quando caio (E já cai algumas vezes) doi - e que algumas vezes temi nunca mais poder voar novamente.
Admito que sem a criança pra começar a me erguer - e tambem para cuidar de mim - eu perderia o prazer maior que eu possuo.
Que sem a linha eu perderia parte da direção - e não teria nem como voar e nem como retornar ao meu criador, o que tambem me impossibilitaria de voar.
Mas, mesmo sabendo disso, por quê eu não posso realmente voar sozinho?
Tudo o que existe, tudo para o que fui criado, é apenas para ir ao limite e voltar?
O que ganho com isso?
Por que eu fui criado pra voar se eu sempre tenho que voltar pro chão?
Se o chão é minha terra que se faça comigo o mesmo que com aviões de brinquedo, aliás - que me fizessem um avião de brinquedo!
Mas não.... o menino não quis assim - não quis e não me fez assim.

Ele, dia após dia, me faz voar ao limite e quando eu creio que vou alem e conhecer tudo aquilo que ele me leva a (quase) conhecer eu sou trazido de volta. E acho ainda pior quando ele não me leva, temo por não ter mais sentido.
Temo por nunca mais (mesmo rasante) voar e me pego rezando para ser levado de novo, apenas para depois lamentar a falta de liberdade e lamentar a crueldade de ser apresentado ao que é intocavel.
Lamentar o que não pode fazer e temer não fazer o que pode...... mas bem - é assim que eu sou. Eu sou uma pipa


(texto antigo - tem quase um mês, mas é sempre atual ;D)

2 comentários:

kerberos2001 disse...

É ne... a vida é uma ilusao, umas dolorosas, e outras deliciosas; Onde os sentimentos se mesclam com a realidade... um mito, onde você não sabe onde termina um, e inicia-se outro.

Td é ilusório ao ponto de real, so sabemos que nossa propria vida é real; dae a base para o filme matrix... reveja e vai entender ;)

Ricardo LOA disse...

fião - matrix é lugar comum em aulas de filosofia =P